9 de março de 2008

Hume e a fragmentação da consciência

Há exatamente 13 meses, eu publicava, ainda no Blog a Dois, um texto intitulado Pedaços. Hoje, volto a tocar no tema da fragmentação do tempo e da realidade, mas citando O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder. Ao tratar do filósofo David Hume, o personagem Alberto Knox explica para a jovem Sofia a idéia daquele filósofo escocês de que não existe unidade e constância em cada consciência:
"É falsa a sensação de que nossa personalidade possui um núcleo constante. Nossa noção de eu compõe-se, na verdade, de uma longa cadeia de impressões isoladas, que nunca conseguimos vivenciar simultaneamente. Hume fala de um 'feixe de diferentes conteúdos de consciência, que se sucedem numa rapidez inimaginável e que estão em constante fluxo e movimento'. Nossa mente seria, então, 'uma espécie de teatro', no qual estes diferentes conteúdos 'se sucedem em suas entradas e saídas de cena, e se misturam numa infinidade desordenada de posições e de tipos'. Para Hume, portanto, o homem não possui uma 'base' de personalidade, atrás ou abaixo da qual se desenrola a cena de que são atores as percepções e as sensações. É como as imagens numa tela de cinema: elas se alternam tão rapidamente que não vemos que o filme se compõe de imagens isoladas. Na verdade, essas imagens não estão conectadas. O filme é uma soma de instantes."
Hume viveu entre 1711 e 1776, mas não foi o primeiro a questionar a idéia de que é falsa a idéia de unidade que temos de nós mesmos. Hoje, pensar assim ainda parece bastante estranho e, com certeza, também incômodo. O que sobra de nós se, de fato, não existe um "eu" estável por detrás de cada pensamento? O que sobra do tempo se, de fato, não existe um fluxo contínuo, mas apenas fragmentos que nós, sem percebermos, colamos e transformamos em narrativa? Perguntas, meus amigos, perguntas - é só isso que eu posso lhes oferecer. Vocês têm as respostas?

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